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A carne brasileira é forte


Publicado em: 00/00/0000 00:00 | Categoria: Geral

 


Depois da “Operação Carne Fraca”, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na semana passada, me dei ao trabalho de ler, ver e ouvir quase tudo que foi publicado a respeito do assunto. Esse interesse pode se justificar tanto pela posição de consumidor como de médico veterinário, profissional que trabalha na inspeção em frigoríficos e assim tem responsabilidade na garantia de qualidade do produto que chega à mesa do consumidor. A análise do que foi divulgado até agora permite as seguintes conclusões:

 

1-    A carne brasileira é segura e de qualidade. Hoje, o Brasil exporta carnes bovina, suína e de aves para mais de 150 países, sendo o principal player deste mercado. Cada um deles avaliou detalhadamente todo o serviço de defesa e inspeção sanitária brasileira para tomar a decisão final. Caso não tivessem encontrado segurança neste serviço, e em consequência a comprovação de que a nossa carne é de ótima qualidade, não fechariam contratos de importação. Em 2016, os Estados Unidos, um dos países que apresentam as maiores exigências em controle sanitário e de qualidade, passaram a importar carne in natura do Brasil após ampla e detalhada auditoria das plantas frigoríficas e status sanitário da carne brasileira.

 

2-    O que foi divulgado mostra que os problemas detectados se referem somente às carnes processadas. Também fica claro que aconteceram alguns absurdos e distorções de interpretações das conversas por parte da PF como a adição de papelão à carne mecanicamente separada (CMS). Não é razoável pensar que alguma empresa produza salsicha utilizando papelão para aumentar a produção. Infelizmente a investigação constatou que aquelas empresas  não respeitam e lei, como revelou a prática de introduzir aditivos em doses não recomendadas. Os aditivos mencionados, por exemplo o ácido ascórbico, são utilizados também em outros países e, dentro da recomendação técnica, servem para preservar alguma característica da carne. Nestas condições não representam riscos à saúde do consumidor. Se as empresas adotam a política de não respeitar a legislação, aí sim é problema de polícia e elas, bem como seus dirigentes, devem sofrer as punições previstas na legislação. Nada, absolutamente nada, foi detectado em relação à carne in natura. Os dois anos de investigação serviram para comprovar que a carne fresca não apresentou qualquer problema, portanto, é de ótima qualidade.

 

3-    A forma como foi divulgada tal operação pode trazer graves prejuízos ao país. A economia brasileira só não está pior porque o agronegócio, apesar de todas as trapalhadas político-governamentais e a corrupção que grassa no país, vem crescendo ano após ano. Enquanto outros setores da economia apresentam resultados negativos, este segmento é o único que conseguiu crescer nos últimos tempos. E o “segmento carne” é o segundo item das exportações do agronegócio brasileiro. Em 2016 foram exportadas mais de um milhão de toneladas de carne in natura, representando faturamento superior a U$ 4,3 bilhões. Só em fevereiro deste ano o Brasil faturou U$ 410 milhões com a exportação de carne bovina. Além disso, o setor gera milhões de empregos e no total mais de U$10 bilhões em exportações. Não se pode aceitar que a irresponsabilidade de uns poucos - três fábricas entre mais de 2,8 mil plantas frigoríficas - sirva de motivo para que agentes públicos e a mídia generalizem que a carne brasileira não tem qualidade e represente riscos. Que estes poucos sejam severamente punidos, mas não atrapalhem o desenvolvimento de um setor tão importante para o país.

 

4-    As investigações constataram a participação de fiscais sanitários nas irregularidades, inclusive com o recebimento de favores e propinas. Infelizmente, neste segmento também se verifica a desonestidade de agentes públicos e empresários, fato generalizado no país em todas as áreas.  Contudo, isso representa uma minoria, já que após dois anos de investigação, 33 inspetores de um total de mais de 11 mil funcionários (cerca de 0,3%), foram envolvidos nas falcatruas. Entre outras coisas, isso representa que o Serviço de Inspeção Federal (SIF) é seguro, confiável e composto por profissionais sérios, competentes, éticos e honestos. Aqueles envolvidos, após as devidas comprovações, devem ser severamente punidos tanto sob o aspecto ético como administrativo, talvez até com exoneração. Não se pode permitir que esta minoria desonesta coloque em xeque o SIF, serviço criado há mais de 100 anos e executado por médicos veterinários competentes e zelosos pela qualidade e inocuidade do produto que chega até o consumidor brasileiro e de outros países.

 

 

A carne brasileira é forte, segura e de qualidade, devendo ser consumida normalmente como excelente fonte proteica.

 

 

Méd. Vet. Benedito Dias de Oliveira Filho

Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás (CRMV-GO)


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